quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Nêga avó


Café preto e doce de derreter a alma
com chimango feito de goma e água
mergulho numa infância antiga
nos quintais desse sertão
de esperança


Seu colo acalenta lembranças
e minha criança dança
em sua morada de terreiro
cheio de galinhas,
plantas e cães parceiros

Lavadeira de rio
que quase não corre
nas veias dessa terra

Sua sabedoria
Não tem pressa de viver
nem tão pouco medo de morrer
e sentir dor

Sua resistência
é minha luta
e sua alegria
é o acolhimento
de minha própria


Essa mulher
que canta
mesmo
com a seca
que devora
o carinho do marido

Do seu canto
me alimento
e admiro
seu mundo
e seu tempo

O seu canto
levarei comigo
no peito,
preta avó.

E contigo cantarei
até que a chuva
te traga de volta o rio
da consciência
de sua importância de existir.

(Jaxuka Porang)
Alto sertão da Bahia
02.08.12